quarta-feira, 30 de junho de 2010

Miragens

Reza a psicanálise e a filosofia que não nos relacionamos com o outro, mas como a imagem que fazemos do outro. É interessante essa afirmação e apenas revela o quanto somos confusos e complexos.
Quando trazemos isso para os relacionamentos amorosos toma proporções de uma tragédia, ou comédia, grega. Porque o apaixonado sempre exagera nas qualidades, que muitas vezes nem existem, no bem amado.
São atos heróicos, cenas de amor e virtudes que só existem na sua imaginação ou na sua própria vontade que elas existam. Tanto é que o que mais ouvimos nos desabafos dos recém separados é um tal de: “vivi tantos anos com fulano e não o conhecia” . É a mais pura verdade só se consegue enxergar bem com os olhos desanuviados da bruma do amor.
A mulher não consegue perceber inclusive que o cara tem um pau pequeno, mal hálito e manias simplesmente insuportáveis na hora de amar. Tudo isso vem à tona em uma separação ou quando o amor acaba.
Para eles o som de sua voz revela-se um tormento, ela passa a ser uma gastadeira compulsiva e completamente dominada pelas irmãs e amigas.
Não, o casal não foi abduzido para logo depois serem devolvidos à terra com seu DNA modificado, eles são as mesmíssimas pessoas. Contudo pela primeira vez estão olhando realmente um para o outro não para imagem que cada um criou ao seu próprio sabor.
Quando há cumplicidade, intimidade e confiança eles conseguem passar por essa difícil prova de realidade e permanecerem juntos sem ímpetos de um voar na garganta do outro.
Mas, em tempos loucos e urgentes que vivemos as pessoas não têm mais paciência para descobrir todos esses outros motivos. Querem ser felizes agora, já, e a melhor forma é buscar uma outra miragem.
Aos olhos do novo amor você volta a ter um pau imenso, fazer sexo como se tivesse 15 anos, suas piadas e amigos são sempre bem vindos e recebidos com um sorriso. Lá você é a mais gostosa, a preferida, sua voz o acalma, sua presença é algo terno, quente, bom.
Nesse idílio amoroso cada um ama sua própria criatura e se sente imensamente feliz com isso.

Mudanças

Mudar é preciso, aprender com os acontecimentos cotidianos, com nossos erros e mancadas. Só não vale com a experiência alheia, isso não é aprendizado é medo de arriscar.
Acredito que as mudanças são sempre bem vindas. Muitos não pensam assim a temem por não saber o que virá logo em seguida. Em um instinto de auto defesa se agarram com força àquilo que mais está machucando, não dão ouvidos aos amigos nem à própria consciência. Acham desculpas para própria covardia: amor, falta de grana, os pais, os filhos, o sistema. Vale qualquer coisa para adiar a mudança.
Mudar de setor no trabalho, se não for possível ao menos a disposição dos objetos. Mudar o corte ou a cor dos cabelos, a roupa, a cor do batom. Mudar de amigos, de grupo, de lugares preferidos, de som, de ambiente, de amor. Mudar sempre.
Metamorfoseando-se damos oportunidade daquele companheiro que há anos está ao nosso lado tenha a leve impressão de que casou de novo, ou podemos também perceber claramente que essa relação já não nos completa mais, é incapaz de acompanhar o nosso dinamismo.
Mas não adianta mudar somente o visual. A mudança tem que acontecer por dentro. Só assim podemos nos sentir vivos, ativos e criativos. Capazes de transformar tudo a nossa volta já que fomos capazes de nos reinventar.
Copiar modismos de vestimenta ou comportamento não faz de ninguém único ao contrário massifica, nivela por baixo, achata e reduz seu brilho.
Essa maravilhosa aventura que se chama “viver” traz grandes desafios, prazeres infinitos, delícias a descobrir, dores que deixam marcas profundas, alegrias fugazes e para cada momento precisamos de uma armadura diferente, não dá para lutar com as mesmas armas, por isso é preciso mudar sempre.

Desapego

O estado de minh’alma, quem consegue adivinhar? Qualquer um que olhe para mim.
Os olhos são espelhos d’alma, apesar de existirem alguns tão bem dissimulados que só mesmo a prosa machadiana para descrevê-los.
Tenho que aprender a ser menos transparente, vulnerável, inteira. Ou em uma linguagem mais realista menos ingênua.
Insisto em acreditar no amor. E para ser amor pra valer, segundo meus desvarios, tem que chegar num rompante. Ser surpreendente, inesperado, avassalador.
Tem que me fazer perder os sentidos, o decoro e o bom senso. Tem que se apostar tudo, entregar tudo, amar tudo, sofrer tudo, sem nada esperar.
Nada de um amor-amigo que chega devagar, que cresce com o tempo, morno, lento, sério, com termo de compromisso e consentimento geral.
Para mim - amor-paixão, que incendeia, assusta, envolve, prende, enlaça, une corpos e almas como se estivessem fundidos pelas duras redes de Hefaístos deus grego do fogo, ferro e dos artífices, que, segundo a lenda, possui a faculdade de unir os amantes.
Contudo, como rege as leis da química, esse amor impetuoso e instantâneo tem a faculdade de se dissolver no ar, não é nem pode ser constante, penoso, prolongado.
Arde como chama e se desfaz com a espuma. Como há de se esperar deixa marcas e saudades e uma vontade louca de começar tudo outra vez.
Fico um tempo assim; lembrando, avaliando meu comportamento. Ora aprovando-o, ora censurando-o sem piedade.
Talvez, um dia, apareça alguém que consiga manter a chama sempre acesa. Sinta da mesma forma que eu a necessidade de manter o amor em alta freqüência ou simplesmente me ensine a amar de verdade.

terça-feira, 29 de junho de 2010

O Indexador

Segundo a lei básica da economia que rege a Teoria do Valor algo só tem um valor elevado se tiver uma utilidade e for raro.
Em determinados momentos da vida sentimos que não temos valor algum pelo menos para aquele indivíduo específico a quem dedicamos nosso afeto e ele simplesmente o despreza.
Vemo-nos sem utilidade e nos tornamos abundante na vida do dito cujo, pois o apaixonado tem a faculdade de se multiplicar e estar em todos os cantos que o seu objeto de desejo imagine estar.
Contudo, ocorre um fato interessante amplamente analisado pelas escolas econômicas. Esse trapo jogado fora e desprezado é apanhado por alguém que lhe dar carinho, importância e valor inimagináveis. O que ocorre?
Sobe sua cotação. Como o capitalista tem o faro aguçado para o que vai “bombar” no mercado, sentimental no caso, jamais abriria mão disso.
Sabedores das suas características: monopolisador e articulador. É de prever sua reação. Entra para quebrar a banca. Joga todas as suas cartas: mente, promete, chora, ameaça, vence.
E o indexador que inflacionou a cotação daquele bem, do seu bem, é posto de lado. Analisado no final do processo como algo que ia contra as leis do mercado que romanticamente acredita na sua livre ação e que no final tudo deve ser perdoado, e de que tudo vai dar certo.
Em um perfeito triangulo amoroso inevitavelmente assumimos o papel de um desses três atores: O Trapo, o Capitalista ou o Indexador. Basta analisarmos mais atentamente para perceber qual papel estamos desempenhando.
Apesar de o Capitalista desempenhar um papel importante, nas relações econômicas, nem sempre é leal ou joga pelo bem comum, ao contrário joga apenas por si não se importando nenhum pouco com o resultado final dessa operação.
Ao Indexador não há tempo nem espaço para serem melhor analisadas suas intenções. Na maioria das vezes sai perdendo, sem ao menos saber o porquê.
O Trapo, ou melhor, a mercadoria desvalorizada, coitado, é manipulado pelo Capitalista e seus sentimentos pisados e ignorados.
Como afirmou nosso poético Karl Marx em “O Capital”, parafraseando Shakespeare: “Evidentemente a mercadoria ama o dinheiro, mas nunca é sereno o curso do verdadeiro amor”.

Um Dilema Atemporal

Homens e mulheres respiram e transpiram sexualidade a todo instante. É só observar uma rodada descontraída de amigos na mesa de um bar formado só por homens, somente mulheres ou heterogêneo. O assunto principal é sempre o mesmo – sexo. Ele está nas piadas, nos gracejos, nas falsas acusações de homosexualidade, ele está presente o tempo todo.
É como se na verdade quiséssemos, ansiássemos até, por nos devorar em plena praça pública, num enorme e democrático bacanal. Mas as convenções sociais, educação e preconceitos aprendidos refreiam esses impulsos e nos conformamos em falar abertamente sobre o assunto e, às vezes, sob pena de uma represália, praticá-lo.
Para nós mulheres a coisa ainda é bem complicada. Resumindo, diz a boa temperança - se for para rolar alguma coisa mais séria - nada de sexo. Seja difícil, diáfana, imprecisa quanto a essa questão.
Dar ou não dar no primeiro encontro, eis a questão; de tão difícil resolução quanto a que enfrentou nosso confuso príncipe dinamarquês.
Sabemos que não é pra rolar nada. Mas o que fazer quando a vontade é maior que todos os bons conselhos? Para ser mais fatalista – e se eu morresse no dia seguinte? Porque devemos refrear nossa libido amplamente despertada em conversas informais e inocentes? Falar pode, fazer não.
Apesar de muitos alardearem que essas são questões já vencidas na sociedade moderna, sabemos que não. A mulher ainda é avaliada pelo seu comportamento sexual.
Para namorar, apresentar aos pais, casar. Os homens preferem aquelas que se dizem não dar muita importância ao sexo, que não deram no primeiro encontro e ficam “ruborizadas” ante a uma piada mais picante. Embora façam arruaça fora de casa, sem que eles saibam, é claro.
Como quebrar essas barreiras? Dando no primeiro encontro. Contando piadas picantes. Explorando e descobrindo seu próprio corpo. Aceitando sua sexualidade. Enfim sendo mulher.

sábado, 19 de junho de 2010

O Começo


Como afirmou Machado de Assis “é difícil começar, mas palavra puxa palavra e assim se inicia um bilhete, uma carta e até um livro”.
Sexo, amor, paixão, medo, traição, fidelidade, devoção, desencanto, frustração, esperança, felicidade e tantos outros sentimentos que nos acompanham ou são despertados em algum momento de nossas vidas serão objetos de crônicas, poesias, pensamentos ou simples desabafos nesse espaço democrático que se abre para o mundo.