terça-feira, 28 de setembro de 2010

Em 12 anos

Ao ler o artigo do Marcos Afonso sobre os 12 anos da FPA no poder me fez ficar tentada a fazer um paralelo com minha vida.
Há 12 anos casei (juntei, emancebei) a primeira vez. Um amor adolescente e irresponsável. Meus pais, minhas irmãs, meus amigos, não queriam essa “união”. Vivi por três anos do que o amor pode dar. Apesar da penúria dos rendimentos de dois universitários estagiários alçamos grandes conquistas. Ambos no crepúsculo da relação agora contratados pelo banco em que estagiávamos conseguimos financiar uma casa e um carro. Foi o começo do fim. Os anos mais amargos financeiramente falando foram os melhores da nossa relação juvenil.
Não deu certo, é claro, separei. Dois anos após nova paixão arrebatadora tive uma filha, costumo chamá-la de Vida.
Após três anos morando ainda com meus pais. Financiei um carro e um apê (meu apezito). Grandes conquistas! Agora tinha três amores na minha vida. Minha amada filha, meu apê e meu Ford K cinza, modelo antigo, lindo de morrer.
Mais um ano, novo casamento. Civil e religioso. Agora era do vera, para sempre. Vendi meu carro, pois precisaríamos de um carro maior já que a família iria aumentar. Vendi meu apartamento, pois não admitia manter navios à deriva de um possível naufrágio. Queimei meus navios. Mergulhei de cabeça nessa nova aventura. Não, não me desfiz da minha filha! Ela é meu sangue e minha alma. Levei-a comigo. Iniciei aulas de Dança de Salão (adoro o Tango!), um trabalho voluntário na igreja e estudos para o mestrado.
O casamento acabou. Ficaram a dança e o serviço voluntário, o projeto do mestrado foi adiado novamente.
O que era para sempre durou apenas dois anos. Nova separação. Casa dos meus pais. Tempo para reavaliar. Fazer novas alianças, (nada de casamento!), conquistar novas amizades, identificar meus adversários (o maior deles é minha ansiedade, já a identifiquei recentemente e a tenho sobre a minha mira). Refazer meus planos estratégicos para os próximos 12 anos.
Sei que novas paixões virão, novos desafios e decisões arriscadas. Portanto, seguir adiante de olho atento e coração solto para o que vier.
Erros, acertos, altos e baixos. Em 12 anos desprezei o conselho e a amizade de velhos companheiros. Fiz alianças desastrosas. Tomei decisões arriscadas. Edifiquei, desfiz-me de bens importantes, conquistados com muita dificuldade. Tive conquistas e derrotas.
Da mesma forma, as pessoas que estão no comando do nosso estado, fizeram seus caminhos. Como podemos cobrar-lhes maestria absoluta, lealdade e destreza irrepreensível na condução de um corpo tão singular como o Estado, se na condução da nossa própria vida nem sempre acertamos?
O certo é que eu vi (apesar da minha tenra idade, 33 anos) pequenas ruas se rasgarem e transformarem-se em belas avenidas, como uma borboleta saindo de seu casulo. Vi a temida “curva da morte” fenecer e dar passagem a um verdadeiro cartão postal da cidade, que nos lembra, à noite, uma pista de avião, nos fazendo acreditar que sonhos são possíveis. Vi as escolas amanhecerem com seus muros coloridos, nada de cores partidárias do pálido azul e branco de outrora. Vi um fétido esgoto rodeado por um matagal virar um belo parque que atravessa a cidade inteira, levando lazer, esporte e cidadania à porta das casas, apesar do mau cheiro insistir em prejudicar o quadro. Vi, pela primeira vez, as pessoas declarando sua ancestralidade com orgulho: “sou filho de seringueiro”, “minha avó veio de uma aldeia”, “sou neto de nordestino fugido da seca”. Vi a terceira ponte surgir em meio ao nada para nos afrontar com sua beleza, sinalizando para onde devemos crescer. Vi a passarela surgindo como um laço de neon para arrematar toda a revitalização da Gameleira e do Mercado Velho.
Vi e continuo vendo muita coisa. Os pessimistas que me perdoem, mas beleza é fundamental.
E não falo apenas de beleza. Muita coisa melhorou na saúde, na educação, na produção, na alto-estima de cada pessoa que mora nesse estado.
Tomara que esses “meninos”, na casa dos cinqüenta, permaneçam pelo menos por mais 12 anos. Para que eu tenha tempo de me reorganizar e poder acompanhar tanta mudança que ainda precisa acontecer!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Uma Luz para o Mundo

No último sábado tive uma experiência única. Participei de uma das reuniões da Sociedade de Philosophia, comandada por nosso querido Marcos Afonso. É escrito assim mesmo com “ph”. Acredito que seja mais uma armadilha para nos envolver no clima do encontro.
O local escolhido, as luzes, o som. O pequeno e aconchegante auditório da Biblioteca da Floresta, prefiro chamá-la, ainda, de Biblioteca Marina Silva, já que tem tudo haver com ela: simples e sofisticada. Empresta ao grupo uma aura de sociedade secreta. Não se imagina que aquela discreta entrada lateral se abre para nos dar uma visão filosófica do mundo. É como um portal mágico, onde uma simpática moça nos recebe com um sorriso sem mais nada a dizer, apenas indicando o caminho.
Ainda tentado me “encontrar” fui apanhada por um terno abraço finalizado com um galante beijo em minhas mãos do Marcos. Costumo chamá-lo de príncipe, afinal que homem hoje em dia recebe uma mulher com um beijo nas mãos? Acredito que somente ele mesmo (sortuda minha amiga Patrícia).
Acomodei-me nas últimas fileiras, para poder observar melhor, ainda com o espírito e a mente vagando por lugares remotos. Quando fomos saudados pelo mediador com um largo sorriso - sejam bem vindo meus caros filósofos e filósofas.
Aquela saudação prendeu minha atenção de imediato. Daí em diante foi uma viagem alucinante entre obras de arte, poesia, literatura, religião, história, música. Tudo sendo apresentado com um acender e apagar das luzes dos slides, do teto, da minha própria visão, sim porque havia momentos em que eu fechava os olhos para ouvir melhor.
Quando eu pensava que tinha acabado. Como um habilidoso ilusionista que sempre tem uma surpresa na manga. Marcos pediu para apagarem as luzes e ele mesmo convidou e iluminou com uma pequena lanterna o caminho de um jovem que sentava-se bem à frente.
O jovem seguiu ereto, elegante para o palco sempre acompanhado pela luz que Marcos lhe oferecia, chegando lá ele soltou a voz num canto lindo e emocionante. Uma melodia que fez desprender de vez meu espírito que por alguns instantes pairou sobre um verdejante bosque.
Ao término da canção acenderam-se as luzes e fomos convidados a iniciar uma discussão sobre o tema.
Observando aquele público, a maioria com menos de vinte e cinco anos, percebi que o nosso querido mediador não jogava luz apenas sobre aquele jovem, mas sobre toda a humanidade. Abrindo caminho num meio em que a ignorância é festejada como a esperteza e que a velocidade dos acontecimentos é desculpa para agirmos sem refletir mais profundamente sobre a nossa própria existência.
Ele simplesmente nos convida a filosofar numa tarde se sábado em um recanto escondido. Tanta riqueza guardada apenas por uma moça de sorriso acolhedor.



quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A Cama

Velha companheira de guerra, alegre, robusta, bebarrona, sempre empririquitada, extremamente perfumada; seu banho para noite (ou qualquer hora do dia), deixaria Cleópatra em cólicas de inveja. Essa é Lúcia minha amiga desde que me entendo por gente.
As nossas farras juntas são dignas de uma comédia dantesca, pois íamos do céu ao inferno. O que já bebemos juntas se fosse água pura, cristalina resolveria a seca do Nordeste. Esses porres renderam muitas doces risadas e lágrimas amargas.
Lúcia continua alegre, robusta, emperiquitada e cheirosa, só não bebe mais, entrou para uma igreja evangélica, está mais calma, mais serena. Pra não fugir às suas características fuçou e encontrou um verdadeiro deus de ébano africano. Vejam só a sortuda. Ele é importado!
Ela, é claro, esta noiva, com casamento marcado e o mais curioso de tudo em completa abstinência sexual. Há quase dois anos! - Sexo, só depois do casamento – afirma ela categórica.
Eu sinceramente não a levei muito a serio. Conheço muito bem seus hábitos e sabia que todos aqueles óleos, sabonetes e hidratantes não eram apenas para perfumar a brisa aos seu redor. Ela gostava realmente do “negócio”.
Mas como para Deus nada é impossível aceitei suas afirmativas. Às vezes ela confirmava angustiada que “só Deus mesmo, porque ela, um ser humano tão frágil não agüentava mais.”
Seu noivo mais crédulo e mais serio fazia de tudo para segurar esse rojão inclusive passando sermões e obrigando a moça a se confessar para afastar esse demônio da volúpia.
Reta final. Chá de Casa Nova. Aluguel do apê. Presentes, docinhos, convites, tudo esta encaminhado.
Mas nada se compara com a euforia com que ela nos convidou a ir a te seu apê para ver a cama que ela, pessoalmente, encomendou.
Chegando lá. Que coisa agradável é um imóvel de um futuro casal! É tudo novo. Tudo muito limpo e organizado. Mas quando entrei no quarto e vi a “cama” tomei um susto e pensei – Meu Deus como a carne é fraca e o pecado nos domina!
Aquela cama era algo libidinoso, revelava exatamente a que propósito serviria. Toda em madeira de lei, uma cabeceira de quase dois metros de altura, com um cume reto, duro, para cima, totalmente sólido e maciço.
Os pés da cama eram espessos e pareciam fundidos ao chão, o seu final era arrematado pro contornos molemente provocantes, era a mais larga e maior cama que já vi em toda a minha vida.
E ela ainda me diz, antes que eu questionasse, com os olhos brilhantes de satisfação – Mandei fazer o colchão por encomenda.
O que te espera meu caro noivo, o que te espera!
Pensei, com um certo despeito, enquanto homem e mulher sujarem seus pés do barro desta terra continuaram sendo apenas homem e mulher.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Desespero Humano

Segundo Soren Kierkegaard, filósofo dinamarquês do século XIX, a fonte de todo desespero é a não aceitação do nosso próprio eu. Daí vem as projeções que fazemos no outro, no passado ou no futuro.
Qualquer coisa é melhor do que a sua própria existência. Encarar suas limitações e imperfeições. O desespero é a compreensão de que não podemos viver a vida do outro. Não podemos voltar ao passado para tentarmos ser mais felizes hoje. E que o futuro certamente não se desdobrará conforme nossas tenras ilusões.
Um amor obsessivo bate às portas da loucura e do desespero. O apaixonado não se vê completo e o que não está completo é imperfeito, trôpego, impossibilitado, portanto, de ser feliz.
E isso ocorre com todas as outras formas de desespero humano. A sensação de que a sua vida está incompleta, inacabada ou o que é pior finda. Tudo sempre determinado por algo externo e que o desesperado não tem governabilidade para mudar.
A angústia, a ansiedade e a depressão tornam-se sintomas externos do que ocorre interiormente, isso porque a origem de toda dor esta em nós mesmos. Não no outro, no amor perdido, no seu chefe, no seu baixo salário, nos falsos amigos.
A origem da dor e do desespero está em não querermos aceitar, por vezes,  a grande responsabilidade que nos foi dada: sermos felizes.
Para tanto esse belo filosofo sentencia “somente quando realizamos uma escolha estamos realizando nossa existência”, e ainda “o desespero é a doença e não o remédio”. Portanto, sofrer também é uma escolha pessoal e intransferível.
A saída também é sinalizada (ainda bem!) por nosso caro filósofo. Nada mais é que orientar-se para dentro de si mesmo, sem máscaras ou fantasias. Nesse mergulho podemos chegar à origem de quem nos criou, a fonte do nosso eu, o Criador, Deus.

Um pouco de poesia



Lençol Vermelho

A lembrança do teu beijo delicado
do teu corpo do mais puro marfim
bailam nos meus pensamentos,
vivem dentro de mim

Invadem minhas noites tristes e em vão tento dormir
que agonia sinto em meu peito
o desejo me atira ao chão, me humilha, me faz sucumbir

Invoco tua presença. Peço à lua, às estrelas, à bruma da noite
todos os ruídos silenciam ante a minha agonia

O vulto toma forma e corpo e cheiro e peso
penetra nos meus lençóis se seda vermelho
em que sozinha me deito nua para te esperar

Fecho os olhos e sinto teus lábios frios tocarem minha carne quente
percorrem todo meu corpo fazendo-o arrepiar
sinto teu peito sobre o meu se comprimir, apenas meu coração bate
num ritmo louco e descompassado
tuas cochas gentilmente forçam passagem
para que me invadas

Um grito surdo escapa-me dos lábios sinto que perco os sentidos
aperto-me ainda mais contra teu corpo
num desejo louco de que entres todo em meu ventre
e eu possa te guardar pra sempre comigo

Após alguns instantes mágicos jazo inerte em teus braços
meu corpo exausto e ainda palpitante se abandona num sono profundo
amanhece o dia em suas cores berrantes
a custo abro os olhos, queria não ter mais essa faculdade
queria dormir teu sono profundo
e assim nos tornarmos esternos amantes.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Esquecimento

Para toda dor sempre existe um balsamo. Para todo crime um castigo. Para toda felicidade um preço.
Pragmático, não? Sim, e muito, mas essas são as regras do jogo da vida, não há escolha. Só nos resta aprender a jogar. Às vezes isso leva tempo, consome uma vida inteira e mesmo assim, vez por outra, escorregamos em ensinamentos básicos.
Como, por exemplo, apaixonar-se perdidamente sem que o protagonista da questão esteja de peito aberto para receber essa enxurrada de sentimentalismo.
Ou perder para a vida ou para a morte alguém muito querido e termos a certeza de que falhamos em nossa missão.
O que fazer? Enclausurar-se e chicotear-se para expurgar suas culpas e falta de atenção e cuidado? Pode ser uma saída. Um tanto dramática e dolorida, mas uma saída. Ao menos teríamos as cicatrizes na pele para nos lembrar de nossas faltas.
Contudo, a vida nos oferece outras portas. Trabalho, amigos, família e o bom e velho tempo.
Depositamos tudo na conta do tempo: dor, expectativas, felicidade, realizações.
É ele, que apesar de velho, não se cansa nunca de acomodar mais alguma coisa em seu já pesado bisaco. E sai andando lentamente, como cabe a um sábio velho. Sem pressa ou afobação vai levando nossos sonhos e tristezas para algum lugar num longínquo futuro.
Às vezes, quando lhe aprovem, oferece-nos uma bebida cobiçada para quem sofre: um cálice com a refrescante e cristalina água colhida no leito do rio Letes, o rio do esquecimento. Que ,de acordo com a mitologia clássica, localiza-se no inferno (Hades). Que peça, que ironia! Vem de lá, do centro dos castigos e das dores o bálsamo para os nossos sofrimentos.
Por que tudo o que se e se precisa diante de uma dor que dilacera o coração e o espírito é esquecer. Entorpecer-se com esse licor trazido do inferno. Dormir, um sono sem sonhos que nos enganem. Não olhar para trás nem inventar um futuro que não se cumprirá.
Muitos não sabem, são segredos da vida, mas essa bebida tão cobiçada, está ao alcance das nossas mãos.
Primeiro é preciso descer ao inferno da nossa própria existência. Sofrer, dizer e ver tudo o que é necessário. Odiar e amar numa combustão explosiva. É necessário sentir o ardor no rosto do ódio e do ressentimento.
Para tanto, posicione seu algoz embaixo de uma lupa. Identifique e amplie seus defeitos. A covardia no caso de um assassino. A falta de lealdade e desvios de caráter para desafetos. A cor dos cabelos, trejeitos, manias, fealdade do conjunto corpo e mente para amores perdidos.
Não busque, de forma alguma, desculpas remotas ou psicológicas para as faltas do outro. Encontre um, dois ou três culpados para sua dor, incluindo você.
Após essa minuciosa análise permita-se sentir vontade de estrangular quem te fez sofrer, é prudente que fique só na vontade. Contudo, já estaremos à margem do rio Letes e gentilmente o velho Tempo irá nos oferecer uma taça com o refrescante líquido. Um alívio para a garganta seca e ardente.
Depois, inebriados começamos a longa subida ajudados por esse nobre cavalheiro, amparados nele começamos a nos reconstruir.
Revemos amigos, familiares, flertes passageiros que agora podem se tornar importantes. Estavam todos ali nos esperando para continuarmos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Viajantes do Universo

Todos os assuntos cabem em uma mesa de bar. No último encontro conseguimos ir bem longe. Versamos sobre a hipótese levantada de que, na verdade, nós somos viajantes do universo. Fomos trazidos por nossos antepassados a milhares de anos e daqui seguiremos de volta para alguma estrela desconhecida.
As evidencias estão por toda parte. A grandiosidade das civilizações Inca e Egípcia que desafiam até hoje a nossa razão e filosofia.
Já tivemos bem mais próximos dessa sabedoria e segundo a própria bíblia: sabedoria é Deus e este é o princípio de tudo e está no céu. No alto, no espaço, em algum lugar além das estrelas e também dentro de nós.
Esse é o grande mistério da humanidade. Indecifrável, uma compreensão infinita que jamais caberá na nossa razão limitada.
Cabe a nós, portanto, apenas contemplarmos o vasto céu de uma noite estrelada e brindarmos com os amigos o fascínio que é a nossa existência.
Enquanto isso aguardamos a nossa vez de viajar novamente pelo universo. Sozinhos ou acompanhados por anjos. Com asas ou em astronaves na velocidade da luz. Não importa a forma. Apenas é certo que algo em nós aponta para o céu. Como uma vontade antecedente a nossa própria existência e consciência. É apenas um desejo remoto de voltarmos para casa.