quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A Cama

Velha companheira de guerra, alegre, robusta, bebarrona, sempre empririquitada, extremamente perfumada; seu banho para noite (ou qualquer hora do dia), deixaria Cleópatra em cólicas de inveja. Essa é Lúcia minha amiga desde que me entendo por gente.
As nossas farras juntas são dignas de uma comédia dantesca, pois íamos do céu ao inferno. O que já bebemos juntas se fosse água pura, cristalina resolveria a seca do Nordeste. Esses porres renderam muitas doces risadas e lágrimas amargas.
Lúcia continua alegre, robusta, emperiquitada e cheirosa, só não bebe mais, entrou para uma igreja evangélica, está mais calma, mais serena. Pra não fugir às suas características fuçou e encontrou um verdadeiro deus de ébano africano. Vejam só a sortuda. Ele é importado!
Ela, é claro, esta noiva, com casamento marcado e o mais curioso de tudo em completa abstinência sexual. Há quase dois anos! - Sexo, só depois do casamento – afirma ela categórica.
Eu sinceramente não a levei muito a serio. Conheço muito bem seus hábitos e sabia que todos aqueles óleos, sabonetes e hidratantes não eram apenas para perfumar a brisa aos seu redor. Ela gostava realmente do “negócio”.
Mas como para Deus nada é impossível aceitei suas afirmativas. Às vezes ela confirmava angustiada que “só Deus mesmo, porque ela, um ser humano tão frágil não agüentava mais.”
Seu noivo mais crédulo e mais serio fazia de tudo para segurar esse rojão inclusive passando sermões e obrigando a moça a se confessar para afastar esse demônio da volúpia.
Reta final. Chá de Casa Nova. Aluguel do apê. Presentes, docinhos, convites, tudo esta encaminhado.
Mas nada se compara com a euforia com que ela nos convidou a ir a te seu apê para ver a cama que ela, pessoalmente, encomendou.
Chegando lá. Que coisa agradável é um imóvel de um futuro casal! É tudo novo. Tudo muito limpo e organizado. Mas quando entrei no quarto e vi a “cama” tomei um susto e pensei – Meu Deus como a carne é fraca e o pecado nos domina!
Aquela cama era algo libidinoso, revelava exatamente a que propósito serviria. Toda em madeira de lei, uma cabeceira de quase dois metros de altura, com um cume reto, duro, para cima, totalmente sólido e maciço.
Os pés da cama eram espessos e pareciam fundidos ao chão, o seu final era arrematado pro contornos molemente provocantes, era a mais larga e maior cama que já vi em toda a minha vida.
E ela ainda me diz, antes que eu questionasse, com os olhos brilhantes de satisfação – Mandei fazer o colchão por encomenda.
O que te espera meu caro noivo, o que te espera!
Pensei, com um certo despeito, enquanto homem e mulher sujarem seus pés do barro desta terra continuaram sendo apenas homem e mulher.

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