terça-feira, 28 de setembro de 2010

Em 12 anos

Ao ler o artigo do Marcos Afonso sobre os 12 anos da FPA no poder me fez ficar tentada a fazer um paralelo com minha vida.
Há 12 anos casei (juntei, emancebei) a primeira vez. Um amor adolescente e irresponsável. Meus pais, minhas irmãs, meus amigos, não queriam essa “união”. Vivi por três anos do que o amor pode dar. Apesar da penúria dos rendimentos de dois universitários estagiários alçamos grandes conquistas. Ambos no crepúsculo da relação agora contratados pelo banco em que estagiávamos conseguimos financiar uma casa e um carro. Foi o começo do fim. Os anos mais amargos financeiramente falando foram os melhores da nossa relação juvenil.
Não deu certo, é claro, separei. Dois anos após nova paixão arrebatadora tive uma filha, costumo chamá-la de Vida.
Após três anos morando ainda com meus pais. Financiei um carro e um apê (meu apezito). Grandes conquistas! Agora tinha três amores na minha vida. Minha amada filha, meu apê e meu Ford K cinza, modelo antigo, lindo de morrer.
Mais um ano, novo casamento. Civil e religioso. Agora era do vera, para sempre. Vendi meu carro, pois precisaríamos de um carro maior já que a família iria aumentar. Vendi meu apartamento, pois não admitia manter navios à deriva de um possível naufrágio. Queimei meus navios. Mergulhei de cabeça nessa nova aventura. Não, não me desfiz da minha filha! Ela é meu sangue e minha alma. Levei-a comigo. Iniciei aulas de Dança de Salão (adoro o Tango!), um trabalho voluntário na igreja e estudos para o mestrado.
O casamento acabou. Ficaram a dança e o serviço voluntário, o projeto do mestrado foi adiado novamente.
O que era para sempre durou apenas dois anos. Nova separação. Casa dos meus pais. Tempo para reavaliar. Fazer novas alianças, (nada de casamento!), conquistar novas amizades, identificar meus adversários (o maior deles é minha ansiedade, já a identifiquei recentemente e a tenho sobre a minha mira). Refazer meus planos estratégicos para os próximos 12 anos.
Sei que novas paixões virão, novos desafios e decisões arriscadas. Portanto, seguir adiante de olho atento e coração solto para o que vier.
Erros, acertos, altos e baixos. Em 12 anos desprezei o conselho e a amizade de velhos companheiros. Fiz alianças desastrosas. Tomei decisões arriscadas. Edifiquei, desfiz-me de bens importantes, conquistados com muita dificuldade. Tive conquistas e derrotas.
Da mesma forma, as pessoas que estão no comando do nosso estado, fizeram seus caminhos. Como podemos cobrar-lhes maestria absoluta, lealdade e destreza irrepreensível na condução de um corpo tão singular como o Estado, se na condução da nossa própria vida nem sempre acertamos?
O certo é que eu vi (apesar da minha tenra idade, 33 anos) pequenas ruas se rasgarem e transformarem-se em belas avenidas, como uma borboleta saindo de seu casulo. Vi a temida “curva da morte” fenecer e dar passagem a um verdadeiro cartão postal da cidade, que nos lembra, à noite, uma pista de avião, nos fazendo acreditar que sonhos são possíveis. Vi as escolas amanhecerem com seus muros coloridos, nada de cores partidárias do pálido azul e branco de outrora. Vi um fétido esgoto rodeado por um matagal virar um belo parque que atravessa a cidade inteira, levando lazer, esporte e cidadania à porta das casas, apesar do mau cheiro insistir em prejudicar o quadro. Vi, pela primeira vez, as pessoas declarando sua ancestralidade com orgulho: “sou filho de seringueiro”, “minha avó veio de uma aldeia”, “sou neto de nordestino fugido da seca”. Vi a terceira ponte surgir em meio ao nada para nos afrontar com sua beleza, sinalizando para onde devemos crescer. Vi a passarela surgindo como um laço de neon para arrematar toda a revitalização da Gameleira e do Mercado Velho.
Vi e continuo vendo muita coisa. Os pessimistas que me perdoem, mas beleza é fundamental.
E não falo apenas de beleza. Muita coisa melhorou na saúde, na educação, na produção, na alto-estima de cada pessoa que mora nesse estado.
Tomara que esses “meninos”, na casa dos cinqüenta, permaneçam pelo menos por mais 12 anos. Para que eu tenha tempo de me reorganizar e poder acompanhar tanta mudança que ainda precisa acontecer!

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Uma Luz para o Mundo

No último sábado tive uma experiência única. Participei de uma das reuniões da Sociedade de Philosophia, comandada por nosso querido Marcos Afonso. É escrito assim mesmo com “ph”. Acredito que seja mais uma armadilha para nos envolver no clima do encontro.
O local escolhido, as luzes, o som. O pequeno e aconchegante auditório da Biblioteca da Floresta, prefiro chamá-la, ainda, de Biblioteca Marina Silva, já que tem tudo haver com ela: simples e sofisticada. Empresta ao grupo uma aura de sociedade secreta. Não se imagina que aquela discreta entrada lateral se abre para nos dar uma visão filosófica do mundo. É como um portal mágico, onde uma simpática moça nos recebe com um sorriso sem mais nada a dizer, apenas indicando o caminho.
Ainda tentado me “encontrar” fui apanhada por um terno abraço finalizado com um galante beijo em minhas mãos do Marcos. Costumo chamá-lo de príncipe, afinal que homem hoje em dia recebe uma mulher com um beijo nas mãos? Acredito que somente ele mesmo (sortuda minha amiga Patrícia).
Acomodei-me nas últimas fileiras, para poder observar melhor, ainda com o espírito e a mente vagando por lugares remotos. Quando fomos saudados pelo mediador com um largo sorriso - sejam bem vindo meus caros filósofos e filósofas.
Aquela saudação prendeu minha atenção de imediato. Daí em diante foi uma viagem alucinante entre obras de arte, poesia, literatura, religião, história, música. Tudo sendo apresentado com um acender e apagar das luzes dos slides, do teto, da minha própria visão, sim porque havia momentos em que eu fechava os olhos para ouvir melhor.
Quando eu pensava que tinha acabado. Como um habilidoso ilusionista que sempre tem uma surpresa na manga. Marcos pediu para apagarem as luzes e ele mesmo convidou e iluminou com uma pequena lanterna o caminho de um jovem que sentava-se bem à frente.
O jovem seguiu ereto, elegante para o palco sempre acompanhado pela luz que Marcos lhe oferecia, chegando lá ele soltou a voz num canto lindo e emocionante. Uma melodia que fez desprender de vez meu espírito que por alguns instantes pairou sobre um verdejante bosque.
Ao término da canção acenderam-se as luzes e fomos convidados a iniciar uma discussão sobre o tema.
Observando aquele público, a maioria com menos de vinte e cinco anos, percebi que o nosso querido mediador não jogava luz apenas sobre aquele jovem, mas sobre toda a humanidade. Abrindo caminho num meio em que a ignorância é festejada como a esperteza e que a velocidade dos acontecimentos é desculpa para agirmos sem refletir mais profundamente sobre a nossa própria existência.
Ele simplesmente nos convida a filosofar numa tarde se sábado em um recanto escondido. Tanta riqueza guardada apenas por uma moça de sorriso acolhedor.



quinta-feira, 16 de setembro de 2010

A Cama

Velha companheira de guerra, alegre, robusta, bebarrona, sempre empririquitada, extremamente perfumada; seu banho para noite (ou qualquer hora do dia), deixaria Cleópatra em cólicas de inveja. Essa é Lúcia minha amiga desde que me entendo por gente.
As nossas farras juntas são dignas de uma comédia dantesca, pois íamos do céu ao inferno. O que já bebemos juntas se fosse água pura, cristalina resolveria a seca do Nordeste. Esses porres renderam muitas doces risadas e lágrimas amargas.
Lúcia continua alegre, robusta, emperiquitada e cheirosa, só não bebe mais, entrou para uma igreja evangélica, está mais calma, mais serena. Pra não fugir às suas características fuçou e encontrou um verdadeiro deus de ébano africano. Vejam só a sortuda. Ele é importado!
Ela, é claro, esta noiva, com casamento marcado e o mais curioso de tudo em completa abstinência sexual. Há quase dois anos! - Sexo, só depois do casamento – afirma ela categórica.
Eu sinceramente não a levei muito a serio. Conheço muito bem seus hábitos e sabia que todos aqueles óleos, sabonetes e hidratantes não eram apenas para perfumar a brisa aos seu redor. Ela gostava realmente do “negócio”.
Mas como para Deus nada é impossível aceitei suas afirmativas. Às vezes ela confirmava angustiada que “só Deus mesmo, porque ela, um ser humano tão frágil não agüentava mais.”
Seu noivo mais crédulo e mais serio fazia de tudo para segurar esse rojão inclusive passando sermões e obrigando a moça a se confessar para afastar esse demônio da volúpia.
Reta final. Chá de Casa Nova. Aluguel do apê. Presentes, docinhos, convites, tudo esta encaminhado.
Mas nada se compara com a euforia com que ela nos convidou a ir a te seu apê para ver a cama que ela, pessoalmente, encomendou.
Chegando lá. Que coisa agradável é um imóvel de um futuro casal! É tudo novo. Tudo muito limpo e organizado. Mas quando entrei no quarto e vi a “cama” tomei um susto e pensei – Meu Deus como a carne é fraca e o pecado nos domina!
Aquela cama era algo libidinoso, revelava exatamente a que propósito serviria. Toda em madeira de lei, uma cabeceira de quase dois metros de altura, com um cume reto, duro, para cima, totalmente sólido e maciço.
Os pés da cama eram espessos e pareciam fundidos ao chão, o seu final era arrematado pro contornos molemente provocantes, era a mais larga e maior cama que já vi em toda a minha vida.
E ela ainda me diz, antes que eu questionasse, com os olhos brilhantes de satisfação – Mandei fazer o colchão por encomenda.
O que te espera meu caro noivo, o que te espera!
Pensei, com um certo despeito, enquanto homem e mulher sujarem seus pés do barro desta terra continuaram sendo apenas homem e mulher.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Desespero Humano

Segundo Soren Kierkegaard, filósofo dinamarquês do século XIX, a fonte de todo desespero é a não aceitação do nosso próprio eu. Daí vem as projeções que fazemos no outro, no passado ou no futuro.
Qualquer coisa é melhor do que a sua própria existência. Encarar suas limitações e imperfeições. O desespero é a compreensão de que não podemos viver a vida do outro. Não podemos voltar ao passado para tentarmos ser mais felizes hoje. E que o futuro certamente não se desdobrará conforme nossas tenras ilusões.
Um amor obsessivo bate às portas da loucura e do desespero. O apaixonado não se vê completo e o que não está completo é imperfeito, trôpego, impossibilitado, portanto, de ser feliz.
E isso ocorre com todas as outras formas de desespero humano. A sensação de que a sua vida está incompleta, inacabada ou o que é pior finda. Tudo sempre determinado por algo externo e que o desesperado não tem governabilidade para mudar.
A angústia, a ansiedade e a depressão tornam-se sintomas externos do que ocorre interiormente, isso porque a origem de toda dor esta em nós mesmos. Não no outro, no amor perdido, no seu chefe, no seu baixo salário, nos falsos amigos.
A origem da dor e do desespero está em não querermos aceitar, por vezes,  a grande responsabilidade que nos foi dada: sermos felizes.
Para tanto esse belo filosofo sentencia “somente quando realizamos uma escolha estamos realizando nossa existência”, e ainda “o desespero é a doença e não o remédio”. Portanto, sofrer também é uma escolha pessoal e intransferível.
A saída também é sinalizada (ainda bem!) por nosso caro filósofo. Nada mais é que orientar-se para dentro de si mesmo, sem máscaras ou fantasias. Nesse mergulho podemos chegar à origem de quem nos criou, a fonte do nosso eu, o Criador, Deus.

Um pouco de poesia



Lençol Vermelho

A lembrança do teu beijo delicado
do teu corpo do mais puro marfim
bailam nos meus pensamentos,
vivem dentro de mim

Invadem minhas noites tristes e em vão tento dormir
que agonia sinto em meu peito
o desejo me atira ao chão, me humilha, me faz sucumbir

Invoco tua presença. Peço à lua, às estrelas, à bruma da noite
todos os ruídos silenciam ante a minha agonia

O vulto toma forma e corpo e cheiro e peso
penetra nos meus lençóis se seda vermelho
em que sozinha me deito nua para te esperar

Fecho os olhos e sinto teus lábios frios tocarem minha carne quente
percorrem todo meu corpo fazendo-o arrepiar
sinto teu peito sobre o meu se comprimir, apenas meu coração bate
num ritmo louco e descompassado
tuas cochas gentilmente forçam passagem
para que me invadas

Um grito surdo escapa-me dos lábios sinto que perco os sentidos
aperto-me ainda mais contra teu corpo
num desejo louco de que entres todo em meu ventre
e eu possa te guardar pra sempre comigo

Após alguns instantes mágicos jazo inerte em teus braços
meu corpo exausto e ainda palpitante se abandona num sono profundo
amanhece o dia em suas cores berrantes
a custo abro os olhos, queria não ter mais essa faculdade
queria dormir teu sono profundo
e assim nos tornarmos esternos amantes.

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Esquecimento

Para toda dor sempre existe um balsamo. Para todo crime um castigo. Para toda felicidade um preço.
Pragmático, não? Sim, e muito, mas essas são as regras do jogo da vida, não há escolha. Só nos resta aprender a jogar. Às vezes isso leva tempo, consome uma vida inteira e mesmo assim, vez por outra, escorregamos em ensinamentos básicos.
Como, por exemplo, apaixonar-se perdidamente sem que o protagonista da questão esteja de peito aberto para receber essa enxurrada de sentimentalismo.
Ou perder para a vida ou para a morte alguém muito querido e termos a certeza de que falhamos em nossa missão.
O que fazer? Enclausurar-se e chicotear-se para expurgar suas culpas e falta de atenção e cuidado? Pode ser uma saída. Um tanto dramática e dolorida, mas uma saída. Ao menos teríamos as cicatrizes na pele para nos lembrar de nossas faltas.
Contudo, a vida nos oferece outras portas. Trabalho, amigos, família e o bom e velho tempo.
Depositamos tudo na conta do tempo: dor, expectativas, felicidade, realizações.
É ele, que apesar de velho, não se cansa nunca de acomodar mais alguma coisa em seu já pesado bisaco. E sai andando lentamente, como cabe a um sábio velho. Sem pressa ou afobação vai levando nossos sonhos e tristezas para algum lugar num longínquo futuro.
Às vezes, quando lhe aprovem, oferece-nos uma bebida cobiçada para quem sofre: um cálice com a refrescante e cristalina água colhida no leito do rio Letes, o rio do esquecimento. Que ,de acordo com a mitologia clássica, localiza-se no inferno (Hades). Que peça, que ironia! Vem de lá, do centro dos castigos e das dores o bálsamo para os nossos sofrimentos.
Por que tudo o que se e se precisa diante de uma dor que dilacera o coração e o espírito é esquecer. Entorpecer-se com esse licor trazido do inferno. Dormir, um sono sem sonhos que nos enganem. Não olhar para trás nem inventar um futuro que não se cumprirá.
Muitos não sabem, são segredos da vida, mas essa bebida tão cobiçada, está ao alcance das nossas mãos.
Primeiro é preciso descer ao inferno da nossa própria existência. Sofrer, dizer e ver tudo o que é necessário. Odiar e amar numa combustão explosiva. É necessário sentir o ardor no rosto do ódio e do ressentimento.
Para tanto, posicione seu algoz embaixo de uma lupa. Identifique e amplie seus defeitos. A covardia no caso de um assassino. A falta de lealdade e desvios de caráter para desafetos. A cor dos cabelos, trejeitos, manias, fealdade do conjunto corpo e mente para amores perdidos.
Não busque, de forma alguma, desculpas remotas ou psicológicas para as faltas do outro. Encontre um, dois ou três culpados para sua dor, incluindo você.
Após essa minuciosa análise permita-se sentir vontade de estrangular quem te fez sofrer, é prudente que fique só na vontade. Contudo, já estaremos à margem do rio Letes e gentilmente o velho Tempo irá nos oferecer uma taça com o refrescante líquido. Um alívio para a garganta seca e ardente.
Depois, inebriados começamos a longa subida ajudados por esse nobre cavalheiro, amparados nele começamos a nos reconstruir.
Revemos amigos, familiares, flertes passageiros que agora podem se tornar importantes. Estavam todos ali nos esperando para continuarmos.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Viajantes do Universo

Todos os assuntos cabem em uma mesa de bar. No último encontro conseguimos ir bem longe. Versamos sobre a hipótese levantada de que, na verdade, nós somos viajantes do universo. Fomos trazidos por nossos antepassados a milhares de anos e daqui seguiremos de volta para alguma estrela desconhecida.
As evidencias estão por toda parte. A grandiosidade das civilizações Inca e Egípcia que desafiam até hoje a nossa razão e filosofia.
Já tivemos bem mais próximos dessa sabedoria e segundo a própria bíblia: sabedoria é Deus e este é o princípio de tudo e está no céu. No alto, no espaço, em algum lugar além das estrelas e também dentro de nós.
Esse é o grande mistério da humanidade. Indecifrável, uma compreensão infinita que jamais caberá na nossa razão limitada.
Cabe a nós, portanto, apenas contemplarmos o vasto céu de uma noite estrelada e brindarmos com os amigos o fascínio que é a nossa existência.
Enquanto isso aguardamos a nossa vez de viajar novamente pelo universo. Sozinhos ou acompanhados por anjos. Com asas ou em astronaves na velocidade da luz. Não importa a forma. Apenas é certo que algo em nós aponta para o céu. Como uma vontade antecedente a nossa própria existência e consciência. É apenas um desejo remoto de voltarmos para casa.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Tormento

Sinto minh’alma atormentada pelas incertezas de um amor fugidio. Por vezes o alcanço, mas inevitavelmente me escapa por entre nos dedos. É areia, vento, bruma, fumaça. Como é arteiro! Brinca com meu coração aflito. Descansa no meu colo. Adormece feito criança. Farto, relaxado, entregue. Depois vai embora. Se despede num sorriso que sempre deixa a dúvida no ar. E eu espero.
Não durmo, vigio, espreito a escuridão das noites frias. Escuto todos os sons do anoitecer. Sonho acordada relembrando os momentos vividos. Passeio pelas estradas do passado recente de entrega e de prazer. Vislumbro o futuro feliz em suas asas.
Para suportar essa ausência e ignorar minha incapacidade de seduzir o amor é necessária uma falsa alegria. Fazer-se livre e independente quando na verdade queria estar presa aos seus grilhões. Alardear sua inutilidade e dizer que amar está ficando demodê.
Rir a bom riso dos apaixonados, apontar suas fraquezas, vícios e dependências. Quando tudo que você mais queria era está completamente inebriada com esse licor.
O corpo age, se movimenta, os pensamentos são coordenados, críticos e lúcidos. Mas o coração não se deixa enganar. Grita, exige, pede um novo amor nem que seja apenas por algumas horas, dias, meses. Não importa. Ele nunca se importa com o que vai acontecer apenas quer saciar essa fome, esse vazio deixado pelo amor antigo.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Capitão Luiz e o Canavião

Em meio à floresta densa: um igarapé de águas brumosas e geladas, a madrugada fria, o canto da coruja. Três homens esperam pacientemente que alguma coisa belisque a isca.
Mais uma pescaria em que se encontram os primos Zezinho, Luizinho e o tio Luiz, pai de Luizinho.
Muita cachaça, privações, aventuras e conversa jogada fora. Esse era o objetivo principal dessas pescarias o peixe era detalhe, mas era sempre bem vindo, pois quando se demorava, mais as conversas se estendiam e nessa noite em especial seguiu por lugares inimagináveis.
- Imagina Luizim se essa canoa criasse asas e voasse? Disse Zezinho pra puxar conversa e Luizinho mais imaginativo embarcou na fantasia.
- Rapaz, a gente saia daqui voando e estacionava em frente ao palácio Rio Branco.
- A gente ia precisar de um comandante – ponderou Zezinho, e como se iluminado por uma idéia ele mesmo respondeu: o Tio Luiz!
- É mesmo papai seria o “Capitão Luiz” e nossa canoa seria o “Canavião” explodiu Luizinho numa gargalhada.
- Rapaz, deixem de besteira, tamãe uns home paracem meninos! Tio Luiz respondia apenas num resmungo, digno de um bom capitão e as risadas se dobravam.
Enquanto isso eles nem percebiam, mas potentes asas surgiam por baixo da pequena canoa, a água se remexia revolta, toda a embarcação tremia agora pronta para realmente alçar vôo.
No que seria a “popa” da canoa, bem próximo onde Tio Luiz estava sentado, surge um timão e instrumentos rudimentares de vôo e navegação os tripulantes assustados recolhem as linhadas e esperam as ordens.
Logo tio Luiz fica de pé com seu velho quepe de pescador, o cigarro sempre aceso no canto da boca, incorpora um valente comandante, segura forte o timão e começa dar ordens à sua tripulação que se revela um tanto indolente na figura do sobrinho Zezinho que exige uma nova dose de cachaça para continuar aquela aventura e é prontamente apoiado pelos demais, ou seja, o Luizinho.
Abastecidos, segurando firmemente os remos, que agora davam uma velocidade assustadora à canoa, desculpe ao Canavião, começam a decolar. A subida é vertiginosa, de tirar o fôlego, logo estão bem acima da floresta, das nuvens, no espaço.
A noite negra pontilhada apenas por suas jóias mais belas até parecia uma bela dama pronta para uma festa e logo à frente a lua cheia cada vez maior e mais próxima, quase ao toque da mão.
Mas nada é belo o suficiente que faça o nosso valoroso capitão desviar seu curso, ele não dá muitas explicações sobre o destino apenas se mantêm firme e concentrado no seu trabalho, sabe que não pode confiar muito na sua débil tripulação agora deslumbrada com as cores e as formas que se desenhavam no vasto céu.
A subida continua, agora já se pode ver a via Láctea e os planetas, a terra mãe e o rei sol em todo seu esplendor.
Levitando na gravidade, girando junto com a terra o Capitão Luiz se permite um sorriso e duas lágrimas escapam dos seus olhos. A contemplação desse espetáculo foi forte demais para seu velho coração. É hora de voltar.
Novas e enérgicas ordens, mais uma dose e a descida. O vento gelado da madrugada, as primeiras cores da manhã e o Canavião segue firme rumo à terra cumprindo os deveres de Apolo em sua carruagem de fogo, distribuindo os raios de sol, trazendo ao seu lado a bela Aurora.
Logo sente-se o impacto na água molhando o rosto dos tripulantes, um novo estrondo e por encanto somem as potentes asas, os rudimentares equipamentos de vôo e navegação, as águas e os ventos se acalmam os homens se entreolham desconfiados e confusos até que Tio Luiz quebra o silencio.
- Zezinho onde é que tu comprou essa cachaça? Tem mais? E uma explosão de risadas ecoa pela mata assustando os bichos e os peixes.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Nas Asas do Amor

Normalmente associamos o amor a algo leve, a fontes, natureza verdejante, luz, claridade. Já o sexo se revela na nossa imaginação à meia luz, perfumes marcantes, pedaços de corpos que ora se revelam, ora se escondem, sussurros difusos, gritos abafados, gemidos sufocados por beijos e travesseiros.
O amor se revela ao ar livre, em plena luz do dia dizemos – eu te amo! A plenos pulmões. Contudo, jamais declaramos ao nosso objeto de desejo “quero fazer um sexo selvagem com você”, havendo testemunhas, mesmo que haja intimidade e confiança entre o grupo, preferimos dissimular nossas intenções.
O amor nos leva para o alto, nos sentimos capazes das mais loucas ações, leves planamos sobre bosques, a lua e as estrelas passam a estar ao alcance de nossas mãos, tornamo-nos poetas.
O único problema é que nunca sabemos em que momento perderemos suas asas que nos são apenas cedidas. Aí a queda é vertiginosa, são luzes e cores confusas, um nó no estomago, uma ânsia louca de tornar a voar. Lacrimejantes buscamos os montes mais altos e nos atiramos novamente, mas só conseguimos nos machucar ainda mais. O amor foi embora e para isso não tem remédio a não ser um novo amor.
Acredito que o sexo é mais honesto, mais prático e menos ilusório que o amor. Nele a satisfação é agora, já, não num futuro distante quando tudo estiver de acordo com suas mais tenras ilusões.
No sexo você dá e recebe na mesma medida o que ofereceu, tem carinho e toda atenção que requer o momento. No amor apenas nos doamos inteiramente na incerteza de que receberemos algo parecido algum dia.
O amor engana, é traiçoeiro, te abandona, aprisiona, escraviza, oferece suas asas para depois deixá-lo despencar das alturas.
O sexo não faz promessas que não pode cumprir, só oferece prazer e é só isso que pede em troca.
Contudo buscamos constantemente encontrar o amor, nos oferecemos a ele, aceitamos seus termos, nos agrilhoamos de livre vontade a essa doce ilusão. Queremos perder os sentidos, o controle. Muitas vezes usamos o sexo para chamar sua atenção, preparando armadilhas em que a vítima somos nós mesmos.
Às vezes ele vem e nos pega de surpresa em meio a uma aventura gostosa que deveria acabar ali, naquela noite.
Começa a metamorfose: as almas se desprendem dos corpos, flutuam, se encontram, se enlaçam, se enamoram. Somos agora feitos zubis seguindo às cegas aquela nova emoção. Alcançamos vales distantes, nos perdemos nesse emaranhado de sensações num vôo impetuoso rumo aos céus. Para depois humilhados e exaustos iniciar a penosa descida.

Pretinha

O dia mal raiou e ela já está cuidando das suas tarefas diárias. Sempre há muito o que fazer. Embora Dona Maria seja generosa na distribuição do milho e do xerém nunca é suficiente para alimentar tantas bocas, é necessário ciscar pelo quintal qualquer coisa que sirva de alimento.
Pretinha é uma galinha em boa idade mas nunca foi cogitada para ir para panela por ser uma excelente botadeira e para se manter assim precisa cuidar da sua saúde, por isso a urgência em se alimentar e alimentar os seus: uma ninhada de pintos que não dá nem pra contar.
Mas ela não se cansa. O novo galo do quintal fareja quando ela está pronta e logo a cobre novamente. Ela, na sua dignidade, não foge nem faz escândalo, deita-se subserviente, aceita seu destino. Afinal é melhor esse do que parar na panela e logo está cheia de ovos novamente.
Contudo, Pretinha possui uma certa liberdade. Logo após as três da tarde, depois de por tudo em ordem, ela se desvencilha dos seus afazeres, pintos e galo ciumento e atravessa uma pequena brecha na cerca passando fortuitamente para o quintal do vizinho. Lá ela encontra um amigo de longas datas, o antigo galo do terreiro de Dona Maria que foi dado ao vizinho por não está mais fazendo o serviço.
Seu destino era virá um caldo generoso, mas parece que seu novo dono se afeiçoou a ele, por também ser um solteirão sem mais importância dar ao sexo do que ao recolhimento e prazer de ler um bom livro.
Ela chega de mansinho cisca o chão e logo que o avista se deita e espera para ser coberta. Força do hábito ou caridade? Ninguém sabe explicar. Só sabemos é que o velho galo não se faz de rogado monta na Pretinha e passa ali bons momentos que muitas vezes nem acaba em coito, mas se dá o prazer de ter uma fêmea novamente sob si.
Minha vó paterna – Dona Maria, é que descobriu essa faceta da Pretinha.
À tarde sentados na varanda sob um calor escaldante sem mais assunto que espantar as moscas ela lançou. – "olha lai vai a Pretinha. Já lavou a roupa, arrumou a casa. Agora ela vai visitar o velho dela. Lá ela faz o café, põe lençol limpo na cama e se deita com ele. Depois volta pra levar os pintos pro galinheiro e nem dá bola se o galo novo se zangar".
Beleza, graça, criatividade sem intenção de agradar, reflexo dos destemperos e caminhos da vida. Minha avó revelou com sutileza, talvez até sem querer, alguns dos segredos da vida: saber driblar um destino esmagador e não se sentir vítima dele.
Há sempre uma fuga, uma saída, um momento de prazer nessa vida cheia de obrigações e deveres. Basta sabermos encontrar a brecha na cerca e termos a coragem de atravessá-la de vez em quando.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Aprendizado

O aprendizado da difícil arte de ser uma mulher moderna requer muita dedicação e coragem para assumir esse desafio.
Ser mãe, mulher, uma excelente profissional com uma pasta entulhada de certificados e MBA, ser esposa, filha, irmã, amiga.
São tantas funções que exigem a nossa presença que por vezes achamos que não daremos conta. E não damos mesmo. Não somos super-mulheres. Não podemos nos multiplicar para ocupar todos esses espaços.
A excelente profissional provavelmente está criando um adolescente confuso e rebelde para a sociedade tomar conta.
A esposa e mãe dedicada está acumulando frustrações para se lamentar no futuro, ainda mais se o seu nem tão fiel companheiro resolver trocá-la por outra com metade da sua idade, quando tudo estiver aparentemente estável.
A mãe solteira ou separada felizmente não precisa esperar a aposentadoria para correr atrás do prejuízo, faz isso logo que pega a carta de alforria.
Daí as festas, barzinhos, novos amigos, novos amores, mas persistem as mesmas cobranças dos pais, do filho, das amigas e dela mesma: ficarei velha e sozinha pro resto da vida?
Em uma dessas saídas podemos observar as “armadilhas” estendidas para fisgar um desavisado. São saltos, vestidos pretos e justos no corpo, olhos brilhantes e bem maquiados, bocas desejáveis que se abrem em sorrisos condescendentes a menor alusão a sua beleza.
Algumas negam suas intenções, outras falam abertamente ou brincam com tudo isso instigando o grupo masculino a observar melhor esses sinais.
Não se enganem elas não querem apenas sexo. Querem um companheiro. Querem construir ou reconstruir aquilo que foi desfeito. Semelhante a Sísifo condenado eternamente a empurrar, ladeira acima, uma enorme pedra que rolava de novo ao atingir o topo. Cabe a mulher a árdua tarefa de agregar as famílias modernas, híbridas e confusas. Mas tudo se ajeita com um pouco de charme e dedicação feminina.
As mulheres transfiguram-se, assumem momentaneamente, cada um desses papéis. Como fabulosas malabaristas do “Cirque Du Soleil” equilibram essas esferas em cima de saltos e unhas bem feitas.
Às vezes cai tudo por terra. Vem a depressão, a vontade de comer um carrinho de cachorro quente inteiro, mas passa, faz parte do aprendizado, voltamos a sorrir e seguimos em frente.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Miragens

Reza a psicanálise e a filosofia que não nos relacionamos com o outro, mas como a imagem que fazemos do outro. É interessante essa afirmação e apenas revela o quanto somos confusos e complexos.
Quando trazemos isso para os relacionamentos amorosos toma proporções de uma tragédia, ou comédia, grega. Porque o apaixonado sempre exagera nas qualidades, que muitas vezes nem existem, no bem amado.
São atos heróicos, cenas de amor e virtudes que só existem na sua imaginação ou na sua própria vontade que elas existam. Tanto é que o que mais ouvimos nos desabafos dos recém separados é um tal de: “vivi tantos anos com fulano e não o conhecia” . É a mais pura verdade só se consegue enxergar bem com os olhos desanuviados da bruma do amor.
A mulher não consegue perceber inclusive que o cara tem um pau pequeno, mal hálito e manias simplesmente insuportáveis na hora de amar. Tudo isso vem à tona em uma separação ou quando o amor acaba.
Para eles o som de sua voz revela-se um tormento, ela passa a ser uma gastadeira compulsiva e completamente dominada pelas irmãs e amigas.
Não, o casal não foi abduzido para logo depois serem devolvidos à terra com seu DNA modificado, eles são as mesmíssimas pessoas. Contudo pela primeira vez estão olhando realmente um para o outro não para imagem que cada um criou ao seu próprio sabor.
Quando há cumplicidade, intimidade e confiança eles conseguem passar por essa difícil prova de realidade e permanecerem juntos sem ímpetos de um voar na garganta do outro.
Mas, em tempos loucos e urgentes que vivemos as pessoas não têm mais paciência para descobrir todos esses outros motivos. Querem ser felizes agora, já, e a melhor forma é buscar uma outra miragem.
Aos olhos do novo amor você volta a ter um pau imenso, fazer sexo como se tivesse 15 anos, suas piadas e amigos são sempre bem vindos e recebidos com um sorriso. Lá você é a mais gostosa, a preferida, sua voz o acalma, sua presença é algo terno, quente, bom.
Nesse idílio amoroso cada um ama sua própria criatura e se sente imensamente feliz com isso.

Mudanças

Mudar é preciso, aprender com os acontecimentos cotidianos, com nossos erros e mancadas. Só não vale com a experiência alheia, isso não é aprendizado é medo de arriscar.
Acredito que as mudanças são sempre bem vindas. Muitos não pensam assim a temem por não saber o que virá logo em seguida. Em um instinto de auto defesa se agarram com força àquilo que mais está machucando, não dão ouvidos aos amigos nem à própria consciência. Acham desculpas para própria covardia: amor, falta de grana, os pais, os filhos, o sistema. Vale qualquer coisa para adiar a mudança.
Mudar de setor no trabalho, se não for possível ao menos a disposição dos objetos. Mudar o corte ou a cor dos cabelos, a roupa, a cor do batom. Mudar de amigos, de grupo, de lugares preferidos, de som, de ambiente, de amor. Mudar sempre.
Metamorfoseando-se damos oportunidade daquele companheiro que há anos está ao nosso lado tenha a leve impressão de que casou de novo, ou podemos também perceber claramente que essa relação já não nos completa mais, é incapaz de acompanhar o nosso dinamismo.
Mas não adianta mudar somente o visual. A mudança tem que acontecer por dentro. Só assim podemos nos sentir vivos, ativos e criativos. Capazes de transformar tudo a nossa volta já que fomos capazes de nos reinventar.
Copiar modismos de vestimenta ou comportamento não faz de ninguém único ao contrário massifica, nivela por baixo, achata e reduz seu brilho.
Essa maravilhosa aventura que se chama “viver” traz grandes desafios, prazeres infinitos, delícias a descobrir, dores que deixam marcas profundas, alegrias fugazes e para cada momento precisamos de uma armadura diferente, não dá para lutar com as mesmas armas, por isso é preciso mudar sempre.

Desapego

O estado de minh’alma, quem consegue adivinhar? Qualquer um que olhe para mim.
Os olhos são espelhos d’alma, apesar de existirem alguns tão bem dissimulados que só mesmo a prosa machadiana para descrevê-los.
Tenho que aprender a ser menos transparente, vulnerável, inteira. Ou em uma linguagem mais realista menos ingênua.
Insisto em acreditar no amor. E para ser amor pra valer, segundo meus desvarios, tem que chegar num rompante. Ser surpreendente, inesperado, avassalador.
Tem que me fazer perder os sentidos, o decoro e o bom senso. Tem que se apostar tudo, entregar tudo, amar tudo, sofrer tudo, sem nada esperar.
Nada de um amor-amigo que chega devagar, que cresce com o tempo, morno, lento, sério, com termo de compromisso e consentimento geral.
Para mim - amor-paixão, que incendeia, assusta, envolve, prende, enlaça, une corpos e almas como se estivessem fundidos pelas duras redes de Hefaístos deus grego do fogo, ferro e dos artífices, que, segundo a lenda, possui a faculdade de unir os amantes.
Contudo, como rege as leis da química, esse amor impetuoso e instantâneo tem a faculdade de se dissolver no ar, não é nem pode ser constante, penoso, prolongado.
Arde como chama e se desfaz com a espuma. Como há de se esperar deixa marcas e saudades e uma vontade louca de começar tudo outra vez.
Fico um tempo assim; lembrando, avaliando meu comportamento. Ora aprovando-o, ora censurando-o sem piedade.
Talvez, um dia, apareça alguém que consiga manter a chama sempre acesa. Sinta da mesma forma que eu a necessidade de manter o amor em alta freqüência ou simplesmente me ensine a amar de verdade.

terça-feira, 29 de junho de 2010

O Indexador

Segundo a lei básica da economia que rege a Teoria do Valor algo só tem um valor elevado se tiver uma utilidade e for raro.
Em determinados momentos da vida sentimos que não temos valor algum pelo menos para aquele indivíduo específico a quem dedicamos nosso afeto e ele simplesmente o despreza.
Vemo-nos sem utilidade e nos tornamos abundante na vida do dito cujo, pois o apaixonado tem a faculdade de se multiplicar e estar em todos os cantos que o seu objeto de desejo imagine estar.
Contudo, ocorre um fato interessante amplamente analisado pelas escolas econômicas. Esse trapo jogado fora e desprezado é apanhado por alguém que lhe dar carinho, importância e valor inimagináveis. O que ocorre?
Sobe sua cotação. Como o capitalista tem o faro aguçado para o que vai “bombar” no mercado, sentimental no caso, jamais abriria mão disso.
Sabedores das suas características: monopolisador e articulador. É de prever sua reação. Entra para quebrar a banca. Joga todas as suas cartas: mente, promete, chora, ameaça, vence.
E o indexador que inflacionou a cotação daquele bem, do seu bem, é posto de lado. Analisado no final do processo como algo que ia contra as leis do mercado que romanticamente acredita na sua livre ação e que no final tudo deve ser perdoado, e de que tudo vai dar certo.
Em um perfeito triangulo amoroso inevitavelmente assumimos o papel de um desses três atores: O Trapo, o Capitalista ou o Indexador. Basta analisarmos mais atentamente para perceber qual papel estamos desempenhando.
Apesar de o Capitalista desempenhar um papel importante, nas relações econômicas, nem sempre é leal ou joga pelo bem comum, ao contrário joga apenas por si não se importando nenhum pouco com o resultado final dessa operação.
Ao Indexador não há tempo nem espaço para serem melhor analisadas suas intenções. Na maioria das vezes sai perdendo, sem ao menos saber o porquê.
O Trapo, ou melhor, a mercadoria desvalorizada, coitado, é manipulado pelo Capitalista e seus sentimentos pisados e ignorados.
Como afirmou nosso poético Karl Marx em “O Capital”, parafraseando Shakespeare: “Evidentemente a mercadoria ama o dinheiro, mas nunca é sereno o curso do verdadeiro amor”.

Um Dilema Atemporal

Homens e mulheres respiram e transpiram sexualidade a todo instante. É só observar uma rodada descontraída de amigos na mesa de um bar formado só por homens, somente mulheres ou heterogêneo. O assunto principal é sempre o mesmo – sexo. Ele está nas piadas, nos gracejos, nas falsas acusações de homosexualidade, ele está presente o tempo todo.
É como se na verdade quiséssemos, ansiássemos até, por nos devorar em plena praça pública, num enorme e democrático bacanal. Mas as convenções sociais, educação e preconceitos aprendidos refreiam esses impulsos e nos conformamos em falar abertamente sobre o assunto e, às vezes, sob pena de uma represália, praticá-lo.
Para nós mulheres a coisa ainda é bem complicada. Resumindo, diz a boa temperança - se for para rolar alguma coisa mais séria - nada de sexo. Seja difícil, diáfana, imprecisa quanto a essa questão.
Dar ou não dar no primeiro encontro, eis a questão; de tão difícil resolução quanto a que enfrentou nosso confuso príncipe dinamarquês.
Sabemos que não é pra rolar nada. Mas o que fazer quando a vontade é maior que todos os bons conselhos? Para ser mais fatalista – e se eu morresse no dia seguinte? Porque devemos refrear nossa libido amplamente despertada em conversas informais e inocentes? Falar pode, fazer não.
Apesar de muitos alardearem que essas são questões já vencidas na sociedade moderna, sabemos que não. A mulher ainda é avaliada pelo seu comportamento sexual.
Para namorar, apresentar aos pais, casar. Os homens preferem aquelas que se dizem não dar muita importância ao sexo, que não deram no primeiro encontro e ficam “ruborizadas” ante a uma piada mais picante. Embora façam arruaça fora de casa, sem que eles saibam, é claro.
Como quebrar essas barreiras? Dando no primeiro encontro. Contando piadas picantes. Explorando e descobrindo seu próprio corpo. Aceitando sua sexualidade. Enfim sendo mulher.

sábado, 19 de junho de 2010

O Começo


Como afirmou Machado de Assis “é difícil começar, mas palavra puxa palavra e assim se inicia um bilhete, uma carta e até um livro”.
Sexo, amor, paixão, medo, traição, fidelidade, devoção, desencanto, frustração, esperança, felicidade e tantos outros sentimentos que nos acompanham ou são despertados em algum momento de nossas vidas serão objetos de crônicas, poesias, pensamentos ou simples desabafos nesse espaço democrático que se abre para o mundo.